segunda-feira, janeiro 02, 2006

O Animal Spirit e a Recessão

O maior acontecimento nos últimos dias em relação à economia brasileira se refere à divulgação da retração de cerca de 1,5% no PIB nacional no último trimestre de 2005. Em primeira observação, pode-se facilmente acusar a política econômica do governo Lula como responsável pela queda, principalmente pelos desempenhos da política monetária (juros altos), fiscal (aumento do superávit primário) e cambial (câmbio valorizado, pró-importações). Contudo, em uma análise mais aprofundada, podemos ver que não é bem assim.

Em primeiro lugar, a taxa de juros brasileira, mesmo continuando a mais alta do mundo em termos reais, esteve em queda no último trimestre do ano passado, indicando assim uma expectativa de crescimento do crédito e da atividade econômica. O superávit primário encontra-se estável, não podendo se associar a atual recessão à política fiscal atual. E, apesar do câmbio valorizado, o Brasil continua batendo récordes de volumes exportados. Por isso, devemos buscar nos fundamentos da economia, principalmente na macroeconomia, outros fatores que possam justificar essa queda na atividade econômica brasileira.

Ora, como dizia nosso mestre John Maynard Keynes, fundador da macroeconomia, o nível de investimentos de uma economia (componente mais volátil no curto prazo na equação de demanda agregada) não pode ser entendido meramente como uma função linear da taxa de juros dessa economia. Os empresários decidem investir de acordo com suas expectativas de lucro, as quais são fundamentalmente psicológicas e voláteis, determinadas pelo "clima" da economia. Por isso, Keynes denomina as expectativas de lucros que levam os empresários a investir como "Animal Spirit" (estado de ânimo) dos mesmos.

Mas, no caso da economia brasileira, o que poderia ter derrubado o animal spirit geral no último trimestre desse ano, em que, além das taxas de juros em queda tivemos pressão sazonal da demanda por bens de consumo (por causa do Natal e do reveillon)? Será que não seria uma reação do setor produtivo nacional ao crescente descrédito do atual governo perante a sociedade, graças a confusão política decorrente das denúncias de corrupção e das operações de "abafa", de absolvições de envolvidos e de acordos escusos entre governo e oposição?

Minha análise pode parecer pessimista, mas quando o Ministro da Fazenda Antônio Palocci garante que a crise política não tem como afetar a economia brasileira, graças aos seus fundamentos fortes, ele parece estar se referindo ao lado monetário da economia. Porque o lado REAL da economia já está sofrendo os efeitos da perda de credibilidade do governo.

9 Comments:

Blogger Thomas H. Kang said...

Ricardo,

Não sei até que ponto a crise política interferiu no lado real da economia. É complicado mensurar isso.

Devemos lembrar também que certas variáveis monetárias influenciam o lado real da economia com alguma defasagem. Não sei se tal coisa pode ter acontecido com os juros altos, que no início do ano ñ apresentavem (acho eu) tendência de queda.

Estarei falando bobagem?

12:35 PM  
Blogger VW said...

A economia real em 2005 sentiu claramente a overdose de juros ortogada pelo COPOM. Isso porque é bom lembrar que no Brasil a propagação dos juros na economia possui um delay de 6 a 9 meses (segundo testes econométricos), o que explicaria em parte porque somente no terceiro trimestre a economia tenha entrado em recessão. Assim, concordo que a crise política tenha contaminado o cenário de investimentos no curto prazo, mas a carga de juros também foi um fator determinante.

12:12 AM  
Blogger Mauro Pereira da Silva said...

Ricardo, bom texto. No entanto, há uma doença na internet, notadamente em blogs, onde os comentadores afirma e provam por A + B que o país está uma merda, que a economia está ruim, e que a situação nunca esteve tão ruim. Eu às vezes acho que essa gente deve estar em Saturno, Plutão ou simplesmente não LÊEM. Sou leigo em economia, minha formação é Filosofia, mas pelo que entendo da questão a Taxa Selic está como está porque uma alteração brusca traria problemas terriveis, entre eles a volta da inflação. Ela serviria também como "freio" da inflação. É isso? Se é, porque TANTA GENTE FALA TANTA MERDA A RESPEITO DISSO? Inclusive o Vice Presidente.

11:44 PM  
Anonymous Anônimo said...

Bom texto ;)

11:46 AM  
Blogger Claudia said...

muito interessante o blog de vcs, por que não atualizaram mais depois de janeiro?

saludos!
http://cafecomeconomia.blogspot.com

9:40 AM  
Blogger Claudia said...

muito interessante o blog de vocês, por que não o atualizaram mais depois de janeiro?

saludos!

http://cafecomeconomia.blogspot.com

9:40 AM  
Anonymous Anônimo said...

muito interessante o articulo postado aqui. BRAVO! eu acho que todos deveriam escrever coisas a respeito do brasil e do mundo, e acredito que todos deveriam escrever e fazer blogs, sites.... para mostrar o que realmnte esta acontecendo no territorio nacional.

10:54 AM  
Anonymous Anônimo said...

Wonderful and informative web site.I used information from that site its great.
» »

2:49 AM  
Anonymous Anônimo said...

Keep up the good work » » »

8:27 AM  

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