terça-feira, dezembro 27, 2005

Economia: um ramo da psicologia?

Há algum tempo, economistas têm se dedicado a tentar explicar não apenas aquilo que classicamente é objeto de nossa ciência. Gradativamente, a economia tem se tornado um ramo da psicologia, englobando os aspectos racionais de nossas decisões.

Hoje em dia, todo tipo de escolha racional é contemplada por pesquisas na área da economia. Não importa se é sexo, casamento, religião ou crime: todos esses assuntos não escapam a uma análise custo-benefício. O sucesso do “Freakonomics” é a prova incontestável disso tudo.

Bom, a minha singela pergunta com tudo isso é esta: não estará a Economia se tornando o ramo da psicologia que estuda a escolha racional, abstraindo aspectos emotivos, espirituais e etc.? Nada contra, mas ainda precisamos de gente que se preocupe com os objetos originais do estudo de nossa ciência: produção, mercados, emprego, preços, etc.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Felicidade x Renda

Como sugerido pelo post dos Rabiscos do meu amigo Philipe, pergunto-me: felicidade é uma função direta da renda? Pros que não manjam de matemática: uma pessoa é cada vez mais feliz à medida que sua renda aumenta?

Muitos economistas como o Eduardo Giannetti estudam esse tema. Filósofos e psicólogos devem estudar esse tema há tempos.

Embora eu não tenha lido muito sobre o tema, eu chuto que talvez essa relação não seja tão direta assim. Poderia até trabalhar com a hipótese da função ser uma parábola côncava para baixo (a boquinha triste e coeficiente da incógnita de maior potência negativo). Ou seja: enquanto se tem pouca renda, a felicidade cresce com o aumento da renda. Contudo, esse crescimento vai diminuindo. Depois, após o ponto de máximo (derivada primeira igual á zero), possamos ter até uma diminuição de felicidade (admitamos uma alta variância dos dados principalmente nesse trecho cadente).

Mas essa é só uma hipótese. No mínimo, acredito em uma função que cresce a taxas decrescentes e fica relativamente estagnada a partir do máximo. A função não pode crescer até o infinito.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Sobre a Falácia de Dilma Rouseff

No momento, o Brasil vive um choque ideológico dentro do governo federal, no que diz respeito à condução da política fiscal. De um lado, o ministro Antônio Palocci e sua equipe no Ministério da Fazenda defendem rigor no controle dos gastos públicos, de modo a gerar um superávit primário compatível com a necessidade do governo de levantar recursos para arcar com seus compromissos de juros. De outro lado, a ministra Dilma Rouseff, contando com inúmeros aliados dentro e fora do governo, defendem a flexibilização do orçamento, de modo a expandir os investimentos públicos no ano eleitoral.

Apesar do choque ideológico no que diz respeito a sua gestão, a política fiscal do governo Lula segue os parâmetros que foram ditados no Plano Plurianual 2004 – 2007, o qual é, atualmente, o principal instrumento de planejamento econômico de longo prazo pelo setor público brasileiro, contando com as diretrizes que regularão a política fiscal pelo período de quatro anos. O plano, suas diretrizes e os resultados apresentados até agora estão disponíveis para o público no site do Ministério do Planejamento (http://www.planejamento.gov.br). De acordo com os dados apresentados, apesar da convergência dos projetos adotados pelo governo federal ao que foi proposto no Plano Plurianual 2004 – 2007, os resultados dos programas executados pelo governo federal, no âmbito de cada ministério e secretaria, variam muito.

Nota-se claramente que, de todas as dimensões contidas no plano, é a dimensão econômica que vem apresentando melhores resultados. Tal como foi previsto no PPA, vêm se obtendo crescimento econômico acentuado com estabilidade de preços, controle fiscal e monetário, câmbio em valorização (para incentivar importações de bens de capital) e políticas específicas de promoção das exportações.

Nas demais dimensões, os programas públicos vêm apresentando graves problemas. Entretanto, ao contrário do que diz o senso comum brasileiro, a maior fonte de problemas para o planejamento público no Brasil não é o aperto fiscal exercido pelo Ministério da Fazenda (isso só é verdade em relação às políticas regionais, uma vez que o Ministério da Integração Nacional foi o maior atingido pelos cortes de gastos), mas sim os problemas burocráticos, de incapacidade de monitoramento dos projetos pelo governo federal e de más relações institucionais entre os diferentes ministérios e entre as esferas de governo brasileiras, no que diz respeito à divisão e à cooperação destas na realização de investimentos públicos e políticas sociais.

Dadas essas conclusões, cabe lembrar às declarações da ministra Dilma Rouseff, pedindo aumento nos gastos públicos para dinamizar os investimentos em infra-estrutura e em programas sociais. De fato, a atuação do setor público em investimentos sócio-econômicos é fundamental para romper os gargalos ao desenvolvimento econômico brasileiro. Porém, dada a análise realizada sobre a realidade dos programas governamentais brasileiros, ao invés de aumento dos gastos, o setor público brasileiro poderia ser muito melhor dinamizado por um verdadeiro choque de gestão, que reduza a burocracia e aumente a eficiência da alocação de recursos, pela divisão intergovernamental e interministerial de competências.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Câmbio e juros

Assustou muito o anúncio de queda do PIB trimestral em cerca de 1,2%. Novamente, o coro da ala “desenvolvimentista” do governo se debate contra as políticas econômicas de Palocci. Rouseff, da Casa Civil, já se manifestara pouco tempo atrás. Agora, há as declarações de Furlan, da Indústria e Comércio, e de Mantega, do BNDES. As críticas desse pessoal estão, ao menos ultimamente, focadas em dois preços-chave da economia, a saber: a taxa de câmbio e a taxa de juros.

A taxa de câmbio valorizou-se continuamente. Estamos num patamar em torno de R$ 2,20, o que prejudica bastante a manutenção da renda das exportações. É sob o pretexto da concorrência com os chineses favorecidos pelo câmbio, por exemplo, que o diretor da Azaléia e ex-governador Antônio Britto anunciou o encerramento de suas atividades em São Sebastião do Caí. O problema do câmbio é muito sério para os exportadores: forte instabilidade cambial de curto prazo prejudica o fechamento de contratos. O governo deve intervir no câmbio?

A taxa de juros é outro ponto. O mainstream afirma que devemos separar fenômenos de curto prazo dos de longo prazo. O que é necessário para um crescimento sustentado no longo do tempo é a elevação do chamado PIB potencial, ou seja, aumento de produtividade (fatores reais). Considero ingenuidade, pelo menos por enquanto, pensar que longo prazo é apenas a soma dos curtos-prazos. Entretanto, não acredito que curto prazo nada tenha a ver com o longo prazo. Estarei indeciso e inconsistente teoricamente? Pode ser. Acredito que as taxas de juros poderiam baixar um pouco mais rapidamente, ao menos para não ficarmos abaixo do PIB potencial.

É necessário, na minha opinião, uma redução um pouco mais acelerada da taxa de juros e alguma intervenção no câmbio, para que este tenha alguma estabilidade. Contudo, surpreende o fôlego das exportações brasileiras. Provavelmente, essas medidas mais expansivas devem ocorrer ano que vem: um ciclo político na variável PIB deve vir por aí.

PS: Não vou entrar aqui em superávit primário: é um assunto deveras complicado. Até porque alguns dizem que não houve diminuição de gastos, mas aumento de tributação para manter o superávit. Já outros dizem que não temos mais infra-estrutura devido a isso... Enfim...

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Rótulos

Costumamos rotular o tempo todo. Todos sabem disso: seja lá qual for o assunto, rotulamos. Gremista ou colorado, bonito ou feio, heterossexual ou homossexual, inteligente ou burro, roqueiro ou funkeiro ou quem sabe pagodeiro... Claro que não são apenas rótulos: às vezes são caraterísticas da pessoa, mas apenas uma dentre muitas. Esses rótulos carregam uma série de julgamentos preconceituosos consigo e impedem às vezes que vejamos as pessoas de uma forma mais “limpa”. Embora sejam úteis às vezes (sinalização em economês), no exagero são nocivos.

Na economia, há muitos rótulos. Você pode ser ortodoxo ou heterodoxo. Mas se você for ortodoxo, você pode ser monetarista, novo-clássico ou novo-keynesiano. Sem contar os neo-institucionalistas. Mas cuidado, existem os heterodoxos. Mais fácil será discutir com um pós-keynesiano do que com um marxista. Neo-ricardianos e cepalinos estão em extinção. Mas há outras correntes correndo por fora como os neo-schumpeterianos evolucionistas, estruturalistas, regulacionistas, institucionalistas (os outros). Putz, esqueci os austríacos, mais próximos da ortodoxia, embora diferentes, pois são austríacos.

E quando você observa que, entre os novos-keynesianos, tem um certo sr. Mankiw defendendo metas de crescimento e um certo sr. Bernanke, defensor de metas de inflação no Fed, você vê que é tudo apenas rótulo mesmo.

[Revolta com essa discussão enjoada em que mais se rotula do que se discute seriamente.]