segunda-feira, abril 04, 2005

Além das teorias

As teorias surgem devido a um contexto histórico específico, para resolver problemas que esses momentos apresentam. É dessa necessidade, após a derrocada do Estado de bem-estar social nos anos 70, que ressurgem medidas liberalizantes na conduta da política econômica. Se essas teorias opostas parecem estar certas durante seus contextos, que teoria será que mais se aproxima da verdade? E ainda: qual a resposta para o Brasil em seu contexto atual?

A inflação acelerada dos anos 80 necessitava de remédios contra a instabilidade causada pelo aumento descontrolado de preços. De fato, a busca da estabilidade é um dos focos da teoria ortodoxa e passou a responder de forma mais adequada as dificuldades do período. Diversas vezes no Brasil, os governos populistas, mesmo sabendo que eram necessárias aplicar medidas ortodoxas para recuperar a estabilidade, esqueceram disso para não desagradar seu eleitorado. Os resultados foram funestos: suicídio de Vargas, a dívida do governo JK e o golpe militar em Goulart podem ser parcialmente explicados por problemas de desestabilização. No governo Sarney, novamente precisou-se combater a inflação. A opção pelo choque heterodoxo não foi feliz. Aparentemente, a heterodoxia que tão bem soube alavancar o crescimento nas décadas posteriores à crise de 1929, já não tinha soluções para o contexto que havia mudado.

Hoje o Brasil tem um parque industrial completo devido à substituição de importações: a heterodoxia parece ter completado em boa parte seu trabalho. A inflação também está controlada, a ortodoxia também parece estar completando sua parte. A pergunta é, o que deve ser feito e de que forma daqui para frente? A resposta não parece estar em teorias simplesmente. O fato é que há algumas medidas muito mais importantes para o desenvolvimento econômico do que meramente a política monetária, como se costuma pensar.

Educação e investimentos em infra-estrutura são partes que cabem preponderantemente ao governo e que possibilitam crescimento de longo prazo. Política monetária, seja lá qual for, não garante crescimento sustentável. Pode ajudar, mas devemos ter em mente a curva de Phillips: ou é inflação ou é desemprego. Dificilmente escapa-se dessa escolha cruel. Seja lá qual for a escolha, porque o foco não é outro? Em vez de prestarmos atenção demasiada na taxa Selic, poderíamos pensar em como gastar eficientemente os recursos públicos visando o desenvolvimento. Se precisamos atingir metas de superávits primários, pensemos então em cortar despesas inúteis e gastar no que é prioridade. Foi com educação e infra-estrutura que países sem recursos como a Coréia (puxando a sardinha pro meu lado de novo) cresceram. Imaginem o que o Brasil poderia fazer...

1 Comments:

Blogger Thomas H. Kang said...

Educação: creio que a maioria dos países do mundo investe em educação de qualidade em níveis fundamental e médio. No superior, de fato, não é consenso. Quando falo em educação, queria enfatizar a melhoria no ensino básico. Quanto ao superior, já temos boa qualidade: só não podemos deixar ela piorar e melhorar se possível, mas ensino básico tem que ser melhorado se necessário a custas de outros gastos!

Infra-estrutura: tenho dúvidas a respeito. Mas acredito que isso o setor público possa colaborar assim como o setor privado. Não estou defendendo PPP, que nem sei bem como funciona. Sei que nós temos um Estado endividado, por isso a minha dúvida quanto a possiblidade dessa atuação.

Taxa Selic: Não sei até que ponto isso afeta crescimento duradouro (nem vou usar a expressão longo prazo pq essa não existe para os pós-keynesianos), até pq ainda não tenho filiação ideológica.
Mas como sei que não posso resolver essa briga, pensei naquilo que poderia ser comum a ambas as correntes.

9:54 AM  

Postar um comentário

<< Home